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2014
Encontramo-nos no café em frente à estação ferroviária de Sintra. Conheci o trabalho de M através do Facebook. Embrenhado na escrita de um romance, em que uma parte considerável se passa na serra, entrei em contacto com ele para tentar obter alguns esclarecimentos e despistar possíveis incongruências.
M começou a ir para a serra em adolescente, numa paixão, talvez mesmo obsessão, que em breve o levaria a passar noites inteiras sozinho a andar entre a Pena e a Peninha, no meio de árvores antigas e pedregulhos gigantes. Haveria mais tarde de se especializar na recolha das lendas locais muitas delas envolvendo mouros, fantasmas e milagres.
Diz-me que nas suas solitárias deambulações noturnas era habitual perceber que não estava sozinho na escuridão. Ouvia cânticos de grupos ocultos no arvoredo, pessoas a caminharem em silêncio, como ele, por trilhos que quase ninguém conhece e bastante longe das estradas. Fala-me de uma vez em que se instalou para passar a noite entre dois rochedos na encosta do castelo dos Mouros, um lugar em principio inacessível à noite, e percebeu que alguém subia as rochas, ficando a cerca de dois metros, sem dar por si, a sussurrar uma pequena canção, como que um mantra, durante cerca de meia hora, para depois voltar a continuar a subir.
As histórias que M me conta de um modo tímido, como se estivesse habituado à incredulidade dos seus ouvintes, são acompanhadas por um olhar vivo e que me parece honesto. Não tenho dúvidas de que Sintra e a serra são o centro da sua vida.
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